A passada sexta-feira foi um “dia histórico” para a Associação Comunidade Islâmica da Tapada das Mercês; Algueirão e Mem-Martins (ACITMM), para os seus dirigentes e associados, bem como todas as pessoas daquela freguesia (vincadamente multiétnica) que, professando ou não o credo religioso ensinado pelo Alcorão, beneficiam das acções de cariz solidário, educativo e cultural, promovidas por aquele grupo de cidadãos.
O lançamento da 1.ª pedra do Centro Comunitário e Mesquita significa “um sonho”que começa a ganhar forma: o de juntar os seis espaços arrendados onde a associação desenvolve as suas actividades (banco alimentar, ensino de informática, inglês, português, apoio escolar, jurídico…) e religiosas num só local que seja digno e nos ofereça melhores condições.
O acto simbólico juntou no terreno cedido pelo município (perto da repartição de Finanças da Tapada) embaixadores e representantes de numerosos países muçulmanos, mas igualmente de nações de governo secular. Assim, numa espécie de reflexo da mensagem de paz e tolerância que a melhor interpretação do Alcorão permite extrair, ali estiveram, lado a lado, responsáveis diplomáticos de países de costumes tão díspares e, nalguns casos, até conflituosos entre si como a Arábia Saudita, o Irão, os Estados Unidos, Turquia, Guiné-Conacri… Todos serão agora chamados a contribuir para apróxima fase do projecto da ACITMM, que consiste em juntar três milhões de euros, custo estimado para a obra em questão, a qual contempla, além da mesquita, diversas salas para acolher os serviços prestados à comunidade, desde crianças, jovens, adultos e idosos.
“Será para todos, mas servirá mais as crianças”, referiu ao JR Mamadou Bah, vice-presidente daquela associação, muito elogiado por vários responsáveis de instituições presentes por haver sido“a energia e o motor” deste projecto. “Contamos com a ajuda de todos estes parceiros”, salientou o dirigente, enaltecendo o papel já desempenhado pela edilidade sintrense: “Deu-nos o fundamental, que era um terreno”.
Uma cedência“profundamente merecida”, como salientou na ocasião o vice-presidente da Câmara, Marco Almeida, na intervenção que realizou por delegação do responsável máximo do executivo, igualmente presente.“Queria lembrar que a Comunidade Islâmica da Tapada desde cedo se substituiu às fragilidades que tínhamos nas respostas sociais. Não é apenas um espaço de fé, mas também de resposta social e cultural para as famílias e principalmente para os mais novos, não olhando a quem acolhe, mas sim às necessidades que têm…”, enquadrou este responsável.
Lembrando as origens ligadas à imigração da Tapada das Mercês e a multiculturalidade do próprio concelho, Marco Almeida sustentou que “não há espaço para olharmos a diferença com um sentimento de preocupação ou de angústia; bem pelo contrário: a sociedade sintrense vive da diferença e das respostas que vamos encontrando nas diferentes associações”.
Fé na diversidade que permitiu juntar o padre João Brás, da Paróquia local, e representantes de várias comunidades islâmicas nacionais. Ou, ainda, o comendador Nazim Ahmad, representante em Portugal da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (Centro Ismaelita), que reiterou a disposição daquela instituição emcontinuar o seu apoio na Tapada das Mercês, que tem tido por base o Programa K’Cidade.“A Fundação apostou nesta comunidade que é tão humilde e trabalhadora… Quero que saibam que vão continuar a ter todo o nosso apoio para este sonho ser realidade”, assegurou. Palavras que aumentaramo sentimento de gratidão dos responsáveis da ACITMM.“Para a Fundação Aga Khan não temos palavras suficientes para agradecer”,dissera já Mamady Sissé, presidente da associação, na abertura da cerimónia, fazendo um agradecimento também à Câmara de Sintra e antecipando que o futuro equipamento “vai marcar a História como exemplo do acolhimento de outras culturas”.
O presidente da Junta de Freguesia de Algueirão-Mem Martins, Manuel do Cabo, enfatizou o facto de a cedência do terreno à ACITMM ter sido aprovada por unanimidade. Um momento de“alegria para todos e histórico, também, para Sintra por ser esta a primeira mesquita a construir no concelho”, salientou.
Por seu turno, Alexandra Santos, responsável pelo K’Cidade na Tapada, programa que ajudou a estruturar a ACITMM e de quem tem sido parceiro em quase todas as suas acções desde o seu início, há cerca de quatro anos, frisou ao JR a importância do futuro equipamento.“Penso que vai ser determinante porque a Tapada, apesar de nos últimos anos ter tido já um investimento significativo, sobretudo de mobilização de recursos humanos, ainda tem poucas infra-estruturas face aos desafios que temos pela frente”.
Escrito por: Jorge A. Ferreira / Jornal da Região - Sintra.
Viva Sintra! Terra Portuguesa?